Homeland estará finalmente de volta aos trilhos?


(Spoilers. Vocês estão avisados)


Eu me lembro de todo o fascínio que a primeira temporada de Homeland me provocou. De tão empolgada, recomendava insistentemente aos amigos. Órfã dos áureos tempos de 24 horas, jurava ter encontrado a substituta perfeita: tínhamos Carrie, instável, louca, desobediente e obsessiva como nenhum outro personagem na TV (e Claire Danes soube aproveitar cada momento para construir a atuação de sua vida). Tínhamos Brody, uma incógnita constante, que metade de mim acreditava ser herói e a outra metade jurava ser vilão (personagem defendido com bravura por Damian Lewis). E aí, aquele final de temporada brilhante acabou com todas as dúvidas, como tinha que ser, e com todo o encanto.

Minto. Havia uma saída: dar uma nova função ao ex-fuzileiro da Marinha. Ele podia ser um agente duplo, ele podia ser um líder da al-Qaeda, ele podia ser o presidente dos Estados Unidos, ele podia ser o office boy da CIA, mas deram a ele o pior papel de todos: o de mocinho apaixonado. Erraram a mão no açúcar. Transformaram o que era um thriller interessante numa novela, em que a grande dúvida era com quem a mocinha vai ficar. 


E eu ainda não mencionei Dana, a personagem mais mala da história recente da televisão, superando com larga vantagem o antigo recorde de Kim Bauer. Kim, ao menos, criava problemas genuínos para Jack. Dana só era chata. E, para nossa tristeza, continuou sendo na terceira temporada. Inexplicavelmente, já que nem mesmo a trama do namorado da vez se justificou (pobre Sam Underwood, segunda vez este ano que entrou e saiu de uma série sem dizer a que veio, vide Dexter). E ainda ofuscou o irmão, Chris (Jackson Pace), coitado, que virou mero coadjuvante. Jessica (Morena Baccarin) perdeu força e Mike (Diego Klattenhoff) foi jogado para escanteio.

Mas ainda havia esperança: Carrie voltou ao lugar que sempre devia ter sido seu, o de protagonista. Saul (Mandy Patinkin, sempre excelente) vinha logo atrás, oferecendo sua experiência, sua lucidez e o equilíbrio que o programa precisava. Não foi difícil deduzir que o caminho era tirar Brody da jogada de vez. O problema é que essa decisão, que hoje muitos chamam de corajosa, devia ter sido tomada há pelo menos um ano. Isso nos pouparia de algumas cenas e diálogos bem vergonhosos.

Se mantiver a pegada dos primeiros episódios que vimos este ano, a série tem chances de ganhar novo fôlego. Tem personagens a explorar, como Quinn (Rupert Friend) e Dar Adal (F. Murray Abraham), além de um oponente promissor, o novo diretor da CIA, Lockhart (Tracy Letts). E tem uma nova história a ser criada do zero. Vamos torcer para que o desapego dê início a um recomeço de verdade (mas com um pé atrás, por via das dúvidas).
Giselle de Almeida

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